Avançar para o conteúdo principal

Uma história triste

[Retirado do Facebook de] Ricardo Sousa
Não consegui aguentar. Desatei a chorar.
Hoje no meu voo de Geneve para o Porto, um voo carregado de emigrantes Portugueses sentou-se junto a mim mais um deles. Nada de novo até aqui. Minutos depois de ter pedido uma sandes que apenas consegui comer metade e por trás dos auriculares ligados a um iPhone oiço uma voz. “Deve querer ir a casa de banho”, pensei. Instantaneamente levanto-me… mas não. Um sorriso indica que e outra coisa. Tiro um auricular. “Ainda vai comer mais? Importa-se que fique com o resto?”. E nestes momentos, nestes segundos em que saímos dos nossos hiper-conectados mundos e do nosso stress diário que caímos naquela que e a essência humana. Disse-lhe que não, chamei o chefe de cabine e pedi mais uma sandes. Dei-lha.
Mas esta história para mim foi muito mais que uma sandes ou um momento semi auto-congratulante para colocar no Facebook, foi um verdadeiro reality-check. Ao conversar com o José (raramente o faço num voo), fiquei a conhecê-lo melhor. 40 e muitos como diz ter mas sem querer concretizar, há ligeiramente mais de 2 anos a trabalhar em Vevey na Suíça. Trabalha na construção, vive com 2 colegas e não vê a mulher e as duas filhas há mais de 2 anos. Dois anos!!! Perdeu a entrada da filha na universidade – mas não reclama porque diz que é para isso (e que para a outra também possa ter esse “luxo”) que está na Suíça. O skype ajuda, diz mas a “saudade mata”. E foi para isso que poupou e comprou este voo. Vai ver as filhas, a mulher, a mãe que não vê ha tanto tempo. Vão estar no aeroporto, assegura-me. Não duvido. Diz que saiu de Portugal depois de a fábrica onde trabalhou quase 20 anos ter fechado, não encontrou mais nada em quase um ano de procura. “sou trapo velho” diz.
Como é possível aguentar esta saudade? Como e possível não se queixar? Como é possível dizer-me que está “bem”? Como e possível trabalhar “das 8 às 10″ (faz um part-time também) para poder mandar dinheiro para Portugal para a Rita e a Sofia? E mesmo assim sorrir?
Não consegui, enquanto soltava lágrimas num misto de perplexidade e compaixão, ele ria-se. “Não estou doente homem. Não há motivo para chorar”.
É de facto esta a geração que está na lama. Não os 20-something, não os “cérebros que fogem”, são os pais desses cérebros – chamemos-lhes os músculos. Esses tem muito menos oportunidade, muito menos capacidade de se adaptarem. Esses estão a reconstruir uma vida depois de já terem construído uma. Esses estão a passar pela maior privação de todas. Estar longe da família que criaram, das pessoas que amam. Boa sorte José, e obrigado por este momento.

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

8 - Visitar Coimbra #BucketList

E lá fomos a Coimbra. Era um dos passeios a muito prometido, mas que estava constantemente a ser adiado... Mas em Setembro tínhamos uns dias de férias e aproveitamos para ir passar um dia a Setembro. A cidade é bem gira, tem semelhanças com o Porto, tem um centro histórico bem engraçado. Passamos lá um dia, mas ainda teríamos mais para ver. O mapa da cidade, que recebi no posto de turismo é horrível, não serve de nada. Na parte da Universidade compramos bilhetes (12€ x 2) para ir ver Biblioteca Joanina,as Saladas dos Capelos, Exame Privado e Armas, a Capela de São Miguel e as Galerias de Física Experimental e História Natural. Neste caso queríamos ver era a Biblioteca Joanina, que acabou por ser uma desilusão. Muito pequena, com o síndrome de Capela Sistina "no fotos! no fotos" em que havia câmaras e as senhoras vinham a correr para não se tirar fotos, mesmo sem flash, porque afinal no ultimo piso havia a loja com postais a 4€. E acabei por adorar a Galeria de Histór...

Artesanato - A Feiticeira

A feira de artesanato de Vila do Conde está a decorrer e como sempre, não pude deixar de ir. Todos os anos dou um passeio por lá e vejo milhentas coisas que me apetece trazer para casa. Compro normalmente um presépio, um diabo de Barcelos e muitas vezes algo que me salta a vista na altura. E este ano foi igual... Um presépio, um diabo de Barcelos, um prato para fazer de fruteira, um porta-lapis de pele e um fantoche! É o fantoche que eu venho cá mostrar. Eu adoro fantoches para brincar e contar histórias ao Gustavo. E ele também fica faxinado com eles. Mas quando vi estes... bem! Fujam! A loja chama-se: Artesanato A feiticiera. São lindos e todos em pano, perfeitos em termos de execução, tem muitas versões, muitas histórias, bem adorei. Tive de trazer um! Havia duas versões, um fantoche tradicional de "meter a mão". E a outra versão, mais complexa, tem uma personagem de um lado e virando "a saia" tem a outra personagem. As duas personagens completam uma his...

Pirografia Projecto 2

Como a primeira caixa ficou engraçada e eu gostei muito de a fazer, o marido pediu logo uma para ele. Então, ontem, enquanto via o "Suits", comecei o novo trabalho de pirografia.  Bem mais simples do que parece. O pirografo foi cerca de 12€ no lidl e a madeira pode ser qualquer uma. Claro que quanto melhor a madeira mais uniforme o trabalho. Algum cuidado porque está quente e depois é só deixar a imaginação fazer o resto.